O deputado Luiz Couto (PT-PB) circula pela Câmara sem despertar muita atenção. Aos 65 anos, tem cabelos grisalhos e barba bem aparada. Cumpre o segundo mandato e conhece muitos colegas de plenário. A história de vida, no entanto, torna o petista da Paraíba um parlamentar diferente.
Todo sábado e domingo, deixa no guarda-roupa o terno com o broche parlamentar para usar a peça que, segundo ele, melhor lhe cabe: a batina. Celebra missas, batizados e casamentos na paróquia de São José Operário, em João Pessoa. Padre deputado está fora de moda na Câmara. Só há ele e José Linhares (PP-CE) na atual legislatura.
Mas o que torna Luiz Couto figura única no Congresso é seu pensamento em relação a temas vistos como tabu dentro da Igreja Católica, como o celibato, o aborto, os homossexuais e o uso do preservativo. Com exceção, em parte, do aborto, suas posições contrariam os mandamentos do Vaticano.
Luiz Couto lembra que a restrição à vida afetiva e sexual dos religiosos só foi imposta no século XVI, após o concílio de Trento. E tinha lá sua justificativa, explica.
O padre busca numa passagem bíblica argumentos para sua tese:
A decisão do Vaticano de proibir os fiéis de usarem preservativos nas relações sexuais também é sinal de atraso, na avaliação de Couto.
Contrariando a linha mais conservadora do clérigo, Luiz Couto também sai em defesa dos homossexuais.
O projeto de lei da Homofobia passou pela Câmara, mas está parado no Senado, onde enfrenta forte resistência de parlamentares religiosos, que veem na proposta uma ameaça à liberdade de culto.
O padre paraibano não foge à polêmica mesmo quando assume uma posição mais alinhada à cúpula do Vaticano. Contrário à prática do aborto, Luiz Couto pondera que o Estado não pode fechar os olhos para a realidade e cobra apoio irrestrito às mulheres que interrompem a gravidez.
Apesar de assumir uma posição intermediária em relação ao assunto, o deputado avisa que vai desafiar o comando do partido e votar contra a liberação do aborto caso a proposta seja submetida a votação. O PT já fechou questão sobre o assunto e ameaça de expulsão dois deputados – Luiz Bassuma (PT-BA) e Henrique Afonso (PT-AC) – que trabalham nos bastidores do Congresso para derrubar o projeto de lei.
O processo movido pela Secretaria de Mulheres do partido contra Bassuma e Afonso reflete um sinal de intolerância dentro do partido.
Essa postura "arrogante", segundo ele, é característica da esquerda brasileira. Com atuação política pautada por temas como direitos humanos e reforma agrária, Couto se esquiva do rótulo de esquerdista e critica o maniqueísmo levado às últimas consequências pelos companheiros.
Os teólogos Leonardo Boff e, principalmente, Joseph Comblin, belga radicado na Paraíba, estão entre as fontes em que Luiz Couto busca inspiração. Os dois estão entre os principais representantes da chamada Teologia da Libertação, doutrina de influência marxista que prega a opção pelos pobres.
Boff foi excomungado da Igreja Católica pelo Papa João Paulo II, enquanto Comblin chegou a ser expulso do país, nos anos 70, por causa de sua militância em favor da reforma agrária e contra a ditadura. Outras duas referências diretas na vida político-religiosa de Luiz Couto são os bispos José Maria Pires, mais conhecido como Dom Pelé, por ser negro, e Marcelo Pinto Carvalheira.
Jurado de morte por ter denunciado em duas CPIs – uma na Assembléia Legislativa e outra na Câmara – a ação de grupos de extermínio no Nordeste, Luiz Couto se apega a um terço, à Oração de Santa Cruz e à foto da mãe, afixada na parede do gabinete, para escapar da alça de mira do crime organizado.
Manter o bom-humor também ajuda, ressalta.
A vocação para contar piadas, Luiz Couto afirma ter herdado do pai e da mãe. O paraibano tem um extenso rosário de piadas, inclusive de freiras e padres, as suas favoritas.
Esse senhor é mais um que tem a coragem de peitar a arrogância (e hipocrisia) da cúpula católica e, como todos os que se atrevem a isso, ele foi sumariamente afastado de suas atividades sacerdotais. Mas, ele já deu provas de que não vai se calar. Que assim seja, pe. Couto!
Todo sábado e domingo, deixa no guarda-roupa o terno com o broche parlamentar para usar a peça que, segundo ele, melhor lhe cabe: a batina. Celebra missas, batizados e casamentos na paróquia de São José Operário, em João Pessoa. Padre deputado está fora de moda na Câmara. Só há ele e José Linhares (PP-CE) na atual legislatura.
Mas o que torna Luiz Couto figura única no Congresso é seu pensamento em relação a temas vistos como tabu dentro da Igreja Católica, como o celibato, o aborto, os homossexuais e o uso do preservativo. Com exceção, em parte, do aborto, suas posições contrariam os mandamentos do Vaticano.
, avalia o padre ao criticar a obrigatoriedade do celibato."O comando da Igreja é muito conservador nesse ponto"
, defende."Não tem fundamentação bíblica. Deveria ser optativo"
Luiz Couto lembra que a restrição à vida afetiva e sexual dos religiosos só foi imposta no século XVI, após o concílio de Trento. E tinha lá sua justificativa, explica.
, acredita."É que naquela época havia abusos nesse sentido. Isso hoje não deveria ser tratado como uma questão maior"
O padre busca numa passagem bíblica argumentos para sua tese:
"Jesus tinha apóstolos solteiros, mas também apóstolos casados. Tanto que uma passagem conta que ele foi à casa da sogra de Pedro. Doente, ela se levantou e passou a servir".
A decisão do Vaticano de proibir os fiéis de usarem preservativos nas relações sexuais também é sinal de atraso, na avaliação de Couto.
, diz. Para ele, o veto só favorece a proliferação de doenças sexualmente transmissíveis e distancia a Igreja das ruas."Defendo o uso da camisinha como uma questão de saúde pública"
Contrariando a linha mais conservadora do clérigo, Luiz Couto também sai em defesa dos homossexuais.
, afirma. O deputado votou a favor do projeto de lei que torna crime a discriminação por causa da orientação sexual."Devemos lutar no dia-a-dia contra o preconceito e a intolerância"
O projeto de lei da Homofobia passou pela Câmara, mas está parado no Senado, onde enfrenta forte resistência de parlamentares religiosos, que veem na proposta uma ameaça à liberdade de culto.
, prega."A consciência, a fé e a sexualidade da pessoa têm de ser algo importante em sua orientação de vida"
O padre paraibano não foge à polêmica mesmo quando assume uma posição mais alinhada à cúpula do Vaticano. Contrário à prática do aborto, Luiz Couto pondera que o Estado não pode fechar os olhos para a realidade e cobra apoio irrestrito às mulheres que interrompem a gravidez.
, defende."Sou contra o aborto por convicção. Mas as pessoas que o praticam devem ter sempre direito à assistência médica"
Apesar de assumir uma posição intermediária em relação ao assunto, o deputado avisa que vai desafiar o comando do partido e votar contra a liberação do aborto caso a proposta seja submetida a votação. O PT já fechou questão sobre o assunto e ameaça de expulsão dois deputados – Luiz Bassuma (PT-BA) e Henrique Afonso (PT-AC) – que trabalham nos bastidores do Congresso para derrubar o projeto de lei.
O processo movido pela Secretaria de Mulheres do partido contra Bassuma e Afonso reflete um sinal de intolerância dentro do partido.
, critica o deputado, petista desde 1985."É uma questão de consciência e ética. Não pode ser por imposição. Isso é como ditadura. Não é pela repressão que a gente educa. É preciso passar pelo processo de convencimento"
Essa postura "arrogante", segundo ele, é característica da esquerda brasileira. Com atuação política pautada por temas como direitos humanos e reforma agrária, Couto se esquiva do rótulo de esquerdista e critica o maniqueísmo levado às últimas consequências pelos companheiros.
, afirma."A esquerda brasileira durante muito tempo foi arrogante, arvorando-se dona da verdade. É preciso defender a construção de uma sociedade mais justa, tirando as pessoas da marginalidade e gerando emprego e renda, mas defendendo o respeito às opiniões diferentes"
Os teólogos Leonardo Boff e, principalmente, Joseph Comblin, belga radicado na Paraíba, estão entre as fontes em que Luiz Couto busca inspiração. Os dois estão entre os principais representantes da chamada Teologia da Libertação, doutrina de influência marxista que prega a opção pelos pobres.
Boff foi excomungado da Igreja Católica pelo Papa João Paulo II, enquanto Comblin chegou a ser expulso do país, nos anos 70, por causa de sua militância em favor da reforma agrária e contra a ditadura. Outras duas referências diretas na vida político-religiosa de Luiz Couto são os bispos José Maria Pires, mais conhecido como Dom Pelé, por ser negro, e Marcelo Pinto Carvalheira.
, reconhece o petista."Os dois foram fundamentais na minha formação"
Jurado de morte por ter denunciado em duas CPIs – uma na Assembléia Legislativa e outra na Câmara – a ação de grupos de extermínio no Nordeste, Luiz Couto se apega a um terço, à Oração de Santa Cruz e à foto da mãe, afixada na parede do gabinete, para escapar da alça de mira do crime organizado.
, ressalta."Os amigos sempre me informam sobre as ciladas"
Manter o bom-humor também ajuda, ressalta.
, conta o deputado Antônio Carlos Biscaia (PT-RJ)."Ele sempre anima a nossa rodinha no plenário antes de as votações começarem"
A vocação para contar piadas, Luiz Couto afirma ter herdado do pai e da mãe. O paraibano tem um extenso rosário de piadas, inclusive de freiras e padres, as suas favoritas.
, brinca Luiz Couto."Dizem que sou um padre piedoso e piadoso"
Esse senhor é mais um que tem a coragem de peitar a arrogância (e hipocrisia) da cúpula católica e, como todos os que se atrevem a isso, ele foi sumariamente afastado de suas atividades sacerdotais. Mas, ele já deu provas de que não vai se calar. Que assim seja, pe. Couto!